"Enquanto Amanhã For Para Sempre", a exposição de José Augusto Castro, no espaço da antiga capela no Centro Cultural de Cascais, remete-nos para um desejo recorrente: O de querermos abraçar o tempo perdido da infância. Tal é a simplicidade quase pueril que a pintura de JAC nos desperta.
Desengane-se, contudo, quem pense que é simples o processo criativo deste artista. De facto, como ele próprio nos confessou, o que gosta é de "fazer parecer fácil o que é bastante complexo". Um processo que é feito de camadas que JAC vai pintando umas por cima das outras.
Gosta de deixar a pintura descansar e voltar a pintá-la uns tempos mais tarde. Modifica constantemente os quadros, até que "os volta para a parede" só para não lhes mexer mais. Algures durante este processo evolutivo calha a encontrar "a sua verdade", então o quadro nasce e a história é contada. O artista ao encontrar-se, descobre o ponto de chegada e só aí o quadro está pronto.
Frases e colagens que coleciona em cadernos, músicas, livros que lê, desenhos à vista de objetos do quotidiano, que podem ser simples utensilios de cozinha, tudo serve como ponto de partida para contar as suas histórias. Pinta como respira, naturalmente e sem subterfúgios.
"Pinto para ver aquilo que parece evidente, que está mesmo ao nosso lado todos os dias, mas que não vemos", refere José Augusto Castro.
Mas, o que é a verdade? Quando percorremos as telas agora expostas, descobrimos que, afinal, a verdade não está fechada. E esse é o grande mérito da obra de JAC. A possibilidade de moldar a verdade à interpretação subjetiva de quem vê. Por isso o seu processo criativo é tão intrincado e moroso. Para permitir a desconstrução da complexidade da vida e das memórias, até se atingir a insustentável leveza da simplicidade.