A exposição sobre o fotógrafo António Passaporte, patente na Casa Sommer, cujos postais ilustrados retratam, de uma forma ímpar, um dos períodos áureos da Costa do Sol e outros lugares icónicos do concelho, foi agora enriquecida com a inclusão de 14 modelos de câmaras fotográficas contemporâneas de Passaporte. São máquinas que vão desde o início do século XX aos finais dos anos 50 e 60 que correspondem ao período de atividade de António Passaporte enquanto fotógrafo.
As câmaras fotográficas são provenientes da coleção particular de Fernando Penim Redondo que reúne mais de 500 máquinas de rolo, intimamente ligadas com a história da fotografia.
Este colecionador conseguiu reunir em dez anos centenas de modelos de todos os cantos do mundo num projeto, iniciado em 2012, a que deu o nome de Flashback.
"Em 2012, apercebi-me de uma coisa que me chocou, é que tinha andado durante 30 anos a fotografar sempre com a mesma máquina: uma Pentax Automatic que comprei em Bissau, na Guiné, quando estive na guerra", confessou Fernando Penim que também é fotógrafo.
De facto, Fernando não adquire as máquinas para as ter na prateleira ou somente para expor e partilhar com os outros. Faz questão de as usar e partir em busca de aventuras com elas, retratando diversas realidades e lugares através das muitas viagens onde embarca, apesar dos seus quase oitenta anos.
"O mais difícil agora é encontrar os rolos para cada uma delas" adianta Fernando que começou a fazer reportagem fotográfica nos anos 60, tendo publicado, então, os seus trabalhos em jornais nacionais.
Mas, foi com a ida para a Guiné que a fotografia adquiriu uma função de catarse contra os horrores da guerra: "Em vez de disparar balas, disparava a máquina fotográfica", revelou o então Capitão, acrescentando que "mal saía do barco, embrenhava-me pelos sítios onde desembarcava para ir fotografar a vida dos guineenses".
Aceite o desafio de Cascais para ilustrar a exposição de António Passaporte com exemplares da sua coleção, Fernando começou a investigar sobre a vida daquele fotógrafo para descobrir que câmaras elegera aquele para retratar "de forma magnifica coisas triviais que toda a gente fotografa".
Acabou por trazer também máquinas do início do século XX: "o pai de Passaporte já era fotógrafo e um fotógrafo de renome e eu pude ver algumas fotografias do estúdio do pai dele e apercebi-me de alguns tipos de máquina que lá existiam. Máquinas que o António Passaporte certamente também usou no início uma vez que estavam lá à sua disposição" garantiu Penim Redondo.
Quanto às câmaras fotográficas de eleição de Passaporte, o colecionador tem quase a certeza de que duas delas foram usadas pelo ilustre fotógrafo cujo espólio está à guarda do Arquivo Histórico Municipal de Cascais.
Uma dessas máquinas é uma Leica dos anos 30 (cujo modelo pode ser visto na exposição) que tem uma história curiosa, segundo nos revelou Fernando Penim. A máquina foi adquirida a um canadiano pelo pai, belga, durante a Grande Guerra.
"Esta Leica pertencia a um soldado alemão feito prisioneiro na Bélgica que a deu ao pai do canadiano em troca de comida", conta o colecionador que tem mil histórias curiosas em volta das suas aquisições provenientes de todo o mundo. Sobretudo, quando há rolos esquecidos ainda dentro das máquinas e que o colecionador revela com enorme emoção.
Outro dos modelos que Fernando supõe ter sido usado por António Passaporte (que também pode ser visto na exposição) é uma máquina que o colecionador descobriu numa das fotografias mais famosas de Passaporte em que este está em cima do capot de um dos seus automóveis com um tripé também montado no capot: "É quase de certeza uma Linhof ou uma Gramaflex", garante o colecionador, especificando que "são máquinas que têm a correção de perspetiva, é possível manobrar o plano da objetiva, relativamente ao plano focal, onde está o filme e permitem corrigir a perspetiva de edifícios, por exemplo, portanto, é muito natural que ele usasse uma máquina dessas atendendo ao tipo de fotografia".
Se ainda não viu a exposição de António Passaporte na Casa Sommer, esta é uma excelente ocasião para o fazer, pois, para além das magníficas imagens de Cascais do século passado, pode também apreciar algumas máquinas fotográficas da coleção única de Fernando Penim Redondo. Muitas delas são autênticas peças de arte. Muitas delas têm soluções avançadíssimas para a sua época. Algumas são autênticas peças de relojoaria, contemporâneas de um dos mais distintos fotógrafos portugueses, ele próprio também bastante inovador para a época, tendo imprimindo tal qualidade técnica ao seu trabalho que chegou quase intacto aos nossos dias.
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