Não é todos os dias que se consegue juntar nomes como os de Alfredo Cunha, Pete Souza e Ricardo Stuckert, todos eles fotógrafos oficiais de presidentes como Mário Soares, Ronald Reagan, Barack Obama e Lula da Silva. Mas, é isso que acontece em Cascais, a partir deste sábado, 19 de fevereiro, com a mostra intitulada "O poder na intimidade", na Galeria do Palácio da Presidência, na Cidadela.
Mas, o que é que têm em comum Mário Soares, Barack Obama, Ronald Reagan e Lula da Silva? Foram todos chefes de estado carismáticos com personalidades que ultrapassaram fronteiras e cujos mandatos deixaram marca na história dos respetivos países e mesmo no mundo. Mas, para além de serem figuras públicas, eles eram também seres humanos que, desligadas as luzes dos holofotes e abandonadas as alcatifas dos salões, possuem uma vida própria e por vezes tão semelhante à de qualquer um de nós: "qualquer um deles brinca com o seu cão, nada, namora, faz exercício físico, age como o mais comum dos mortais". O que agora se mostra são alguns desses momentos de intimidade, captados por muito poucos fotógrafos com acesso privilegiado ao que geralmente está vedado ao grande público.
As fotografias icónicas de Alfredo Cunha
Alfredo Cunha é provavelmente a pessoa no mundo que mais vezes fotografou Mário Soares. Acompanhou-o ao longo dos dois mandatos presidenciais e são dele algumas das mais míticas imagens daquele que é considerado como 'o pai da Democracia portuguesa'. A primeira vez que o fotografou foi no épico regresso de Soares a Portugal logo a seguir ao 25 de Abril, quando o acompanhou no comboio desde a fronteira de Vilar Formoso até Santa Apolónia, onde era esperado por uma multidão.
"Quando o comboio chegou, dirigi-me a um senhor e perguntei-lhe se me sabia indicar quem era o Mário Soares", contou Cunha há uns tempos numa entrevista. "O tal senhor era o próprio Mário Soares!", esclareceu o fotógrafo que tem mil e uma histórias de uma vida ao lado de um dos presidentes mais populares.
Alfredo Cunha fotografou Soares até ao fim dos seus dias: "Desde junho de 1985 até ao dia do seu funeral, nunca deixei de o fotografar", recorda o fotógrafo que publicou em 2017 uma fotobiografia do antigo presidente.
Pete Souza captou toda a dimensão humana em Reagan e Obama
De ascendência açoriana, o norte-americano Pete Souza é um dos mais reputados fotógrafos presidenciais do mundo. Passou anos em Washington, onde andou pelos corredores da Casa Branca, com entrada na Sala Oval, com dois presidentes norte-americanos. O primeiro foi o republicano Ronald Reagan. É desse tempo a icónica fotografia da princesa Diana a rodopiar nos braços de John Travolta com Nancy e Ronald Reagan, sorridentes, em fundo. Mais tarde, seria com o democrata Barak Obama que produziu um trabalho que correu mundo, mostrando como ninguém a intimidade do homem que fez história ao tornar-se o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Podemos mesmo afirmar que Pete Souza com os seus cliques únicos contribuiu para cimentar o carisma de Obama.
Ricardo Stuckert o fotógrafo de Lula da Silva
Stuckert começou a trabalhar com Lula da Silva logo no primeiro dia em que o operário-presidente chegou ao Palácio do Planalto. O fotógrafo brasileiro, à semelhança dos seus colegas de exposição, também é oriundo do fotojornalismo. Mas o gosto pela fotografia é claramente uma 'herança' familiar. Os Stuckerts já vão na quarta geração de fotógrafos. Ricardo era filho de "Stuckão", como era carinhosamente conhecido Roberto Stuckert, o reputado repórter fotográfico e fotógrafo presidencial brasileiro, fotógrafo do general João Figueiredo, o último presidente na ditadura militar brasileira, entre 1979 e 1985.
"Aquilo que me parece essencial referir é que estamos perante um conjunto de obras que, apesar de terem origem num universo sobremaneira mediático, não são habitualmente publicitadas, servindo na sua essência para transmitir uma imagem de escassa mundanidade que não deixa, todavia, de ser importante para a apreensão da globalidade do carácter do fotografado", disse aqui, acerca da exposição, Salvato Teles de Menezes, o presidente da Fundação Dom Luís I, para acrescentar que "outro aspeto digno de registo reside no facto de podermos, através destas fotografias, perceber quatro estilos e perspetivas diferentes de atingir um mesmo objetivo".