Numa noite de emoções, a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz foi palco da conferência "O Antemanhã de Cascais" que assinalou a "devolução" de Portugal aos portugueses no dia primeiro de dezembro de 1640. Abrindo as suas portas às gentes de Cascais, a Fortaleza foi o local escolhido para evocar o passado no dia 30 de novembro, 382 anos após os factos que conduziram à Restauração da Independência de Portugal.
Participaram no debate os historiadores Margarida Magalhães Ramalho e Joaquim Boiça, seguindo-se a atuação da fadista Deolinda Bernardo. Aqui se contou, como se de um segredo se tratasse, como Cascais guarda junto ao mar uma inusitada "Matrioska" patrimonial - torre joanina de Santo António, construída em 1488 e porventura um dos mais significantes monumentos históricos de Cascais, que surge envolvida pela Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, edificada em torno da anterior já no final do Século XVI e por sua vez abraçada pelas impactantes muralhas da Cidadela de Cascais, fortificação construída por ordem de Dom João IV depois da restauração da independência nacional em 1640.
Este local assumiu a guarda avançada de Lisboa, que zelava estrategicamente pelo controle do acesso à capital através da barra do Tejo, a antiga Torre de Santo António e posteriormente a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, desempenhou um papel de grande relevo em vários momentos importantes da História de Portugal. E o seu uso militar, que se prolongou durante muitos séculos, foi determinante na definição daquilo que haveria de dar corpo à Identidade Municipal.
Foram muitos os curiosos que acorreram à Fortaleza nessa noite. As visitas que ambos os especialistas guiaram através dos segredos imensos deste espaço após o debate, concretizaram assim o desejo de devolver pontualmente a fortaleza às gentes de Cascais. E estas, embaladas pela voz harmoniosa da fadista Deolinda Bernardo, sentidamente calcorrearam os cantos e recantos onde cada pedra esconde uma história que merece ser contada.
Foi uma noite grande para Cascais, esta que se prolongou madrugada fora enquanto durou a força praticamente inesgotável desta fadista extraordinária. E a porta voltou a fechar-se, sempre na expectativa de que volte a abrir-se definitivamente, ao sabor das palavras que deram forma ao convite inicialmente concretizado
Quinhentos anos de costas voltadas
Utilizada como estação rádio-naval, quando o avanço técnico da guerra fez diminuir o seu poderio militar, a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz passou 500 anos de costas voltadas aos cascalenses que, impedidos de ali entrar e de conhecer o monumento, criaram em seu torno uma aura quase mística de deslumbramento, de curiosidade e de interesse que aumenta paulatinamente.
Quando Fernando Pessoa escreveu a sua "Mensagem", a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz se conjuga, rimando, entre a espuma das ondas do mar e o verdejante abraço da Serra de Sintra, pressentiu—se o Infante que marcou mais uma madrugada fria mas cheia de esperança com a certeza de que o Império efetivamente se vai concretizar: "Quem te sagrou criou-te português. Do mar e nós em ti nos deu sinal. Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal!"
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