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Chalet Ficalho distinguido com Prémio Gulbenkian de Recuperação do Património

12 Set 2023
Chalet Ficalho é um emblemático palacete do séc. XIX que serviu de casa de veraneio a uma família nobre. Os trabalhos de reabilitação e restauro são agora distinguidos com prémio que tem a chancela da Fundação Calouste Gulbenkian.

O Chalet Ficalho, um dos edifícios icónicos de Cascais que foi residência de veraneio de uma família nobre, foi recuperado e é agora uma "guest house". A sua reabilitação valeu-lhe o Prémio Gulbenkian de Recuperação do Património – Teresa e Vasco Vivalva de 2023, cuja cerimónia decorreu, quarta-feira, 13 de setembro, no reabilitado palacete.

A 11 de setembro de 1870, o "Jornal do Comércio" noticiava a chegada de sua Majestade, a Rainha, acompanhada de El-rei, à Vila de Cascais. Foi assim que esta vila de pescadores se tornou num dos destinos de veraneio da elite portuguesa nas últimas décadas do século XIX.

O facto de a Família Real e a Corte escolherem Cascais para se instalarem parte do verão, mudou por completo a história desta singela povoação à beira-mar. Uma dessas grandes mudanças foi a construção de palácios e palacetes – a que se designa Arquitetura de Veraneio – para a instalação sazonal das famílias nobres. Um deles ainda hoje se destaca pela sua arquitetura: o Chalet Ficalho.

O edifício foi mandado construir em 1887 por António Máximo da Costa e Silva, barão e visconde de Ovar, e a mulher Maria Josefa de Mello, futura condessa de Ficalho. O pedido foi aprovado e as obras de construção arrancaram no início de 1898. O quarteirão do clube da Parada, o local onde a família real passava os dias em jogos e outras atividades, foi o escolhido para implantar o edifício. Com os telhados de forte inclinação cinzento-esverdeados, as janelas altas, as portadas vermelhas e o jardim botânico com espécies exóticas, é um dos mais emblemáticos edifícios da região.

O palacete que começou por ser residência dos Condes de Ficalho, passou depois a ser residência de férias das sucessivas gerações que o herdaram. A última dessas herdeiras Maria Chaves faz parte da quarta geração da família. A dimensão do edifício requeria uma enorme recuperação e um trabalho de restauro profundo que era necessário rentabilizar. Pelo que a sua viabilidade passou por adaptar o Chalet a um alojamento local de charme, ou, "guest house".

As obras começaram há cerca de dois anos, após ter sido aprovado o projeto de arquitetura de alteração e ampliação do edificado. O arquiteto Raúl Vieira foi o responsável pela adaptação do chalet. As características principais, tanto interiores como exteriores, mantiveram-se. O trabalho de restauro estendeu-se às madeiras e aos móveis originais. Os azulejos, o chão, as pinturas, os vidros, as portadas, os lustres e as peças de mobiliário foram todas restauradas. Outras, como os sofás, ganharam réplicas. O espaço verde de grandes dimensões manteve-se bem preservado e ganhou uma piscina para os hóspedes. A ideia é conseguir repor o jardim original, com a ajuda do Jardim Botânico de Lisboa.

O júri do Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva deliberou, por unanimidade, atribuir o prémio à Reabilitação do Chalet Ficalho, em Cascais, proposta a concurso pelo arquiteto Raúl Vieira (responsável técnico da intervenção) e Maria de Jesus da Câmara Chaves (dona da obra), por cinco razões:

1) Constitui um exemplo particularmente representativo da arquitetura de luxo de veraneio que se instala em Cascais a partir do último quarto do século XIX, tendo sido implantado num pequeno parque com espécies arbóreas exóticas;

2) O projeto incidiu sobre um edifício que, apesar de classificado, se encontrava já em acentuado grau de degradação e visava, por outro lado, a reconversão do imóvel num equipamento hoteleiro, o que implicava igualmente a incorporação de infraestruturas modernas de apoio a essa redefinição funcional;

3) Conseguiu obedecer a um profundo respeito pela traça original do edifício, o que implicou, em alguns casos, o recurso exemplar a técnicas e saberes artesanais tradicionais no trabalho das madeiras e da pedra, bem como no restauro de telas e sedas de revestimento. Foram encontradas soluções discretas e eficazes, com um mínimo de perturbação do equilíbrio arquitetónico;

4) A recuperação do jardim, em colaboração com o Jardim Botânico de Lisboa, feita com grande preocupação de fidelidade ao projeto paisagístico inicial, sendo a principal alteração ao mesmo, decorrente da instalação de uma piscina, efetuada de modo a minimizar o seu impacto no ângulo de visão a partir da casa;

5) A importância patrimonial do edifício, enquanto expoente de um estilo arquitetónico em grande parte já hoje destruído na maioria das zonas balneares do País, pelo caráter modelar do respeito pelas técnicas e materiais originais no projeto de recuperação e pelo equilíbrio exemplar entre a preservação do conjunto e a sua adequação à sua nova função.


Sobre o Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva | O prémio com a chancela da Fundação Gulbenkian, no valor de 50 mil euros, distingue projetos de excelência na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património português, imóvel ou móvel. Em homenagem a Vasco Vilalva, mecenas a quem o país muito deve na área da recuperação e da valorização do património, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu criar um prémio anual com o seu nome, atribuído pela primeira vez em 2007, destinado a assinalar intervenções exemplares em bens móveis ou imóveis de valor cultural que estimulem a preservação e a recuperação do património. Após a morte da Condessa de Vilalva, em 2017, o Prémio recebeu o nome de Maria Tereza e Vasco Vilalva.

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