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Até Sempre, Carlos Avilez.

22 Nov 2023
Cascais perdeu um amigo. Carlos Avilez, 1935-2023

"O Teatro é um a paixão. Tenho mais de 60 anos de profissional e continuo com medo e apaixonado como no primeiro dia. A idade passa, mas fica o conhecimento, ficam as memórias, fica-nos a força, mas a rebeldia continua." - Carlos Avilez, 1935-2023 (Entrevista de Carlos Avilez ao Canal Cascais que pode ver aqui)

É com profundo pesar que informamos o falecimento do ilustre ator e encenador Carlos Avilez, aos 88 anos, uma das figuras fundamentais na construção do teatro contemporâneo português, partiu esta quarta-feira, deixando-nos um legado imensurável no panorama cultural nacional e internacional.

"É um dia muito triste, Cascais perdeu um amigo, um visionário, um homem à frente do seu tempo, absolutamente disruptivo naquilo que ensinava e encenava. Foi um parceiro de uma caminhada na transformação de Cascais em termos de oferta cultural. Ainda em vida viu nascer o novo Centro de Artes Performativas no Edifício Cruzeiro, com um novo espaço para o Teatro Experimental de Cascais e para a Escola Profissional de Teatro. Carlos Avilez deixa um legado absolutamente único da Cultura nacional. Cascais está de luto, Portugal está de luto, o Teatro está de luto", declarou Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais.

Nascido em 1935, Carlos Vítor Machado começou sua carreira em 1956 como ator na Companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, onde permaneceu durante sete anos. Em 1963, encenou pela primeira vez, apresentando "A Castro," uma adaptação do texto de António Ferreira. Dois anos mais tarde, foi um dos fundadores do Teatro Experimental de Cascais, uma instituição pioneira que se tornou uma referência no teatro contemporâneo em Portugal.

Por momentos, hoje, o teatro perdeu o seu propósito, a sua chama, o seu sentido. Partiu o Mestre. Um dos últimos que podemos apelidar assim. Carlos Avilez nunca foi meu professor, não tive essa sorte. Mas tive a honra de partilhar o palco com o Mestre de uma forma igualmente bonita, a debater sobre cultura. Partilhamos também plateias, eu nas suas peças, ele nas minhas. O teatro perdeu o seu propósito por momentos, mas rapidamente ganha uma nova chama, a de homenagem, a de honrar um legado. Sou um artista feliz por ter conhecido o grande Mestre Carlos Avilez. Muita Merda, Carlos!", foram as palavras sentidas do ator e encenador Luís Lourenço, após o anúncio do falecimento do "Mestre".

O Teatro Experimental de Cascais que completou 58 anos de existência a 13 de novembro último, sob a liderança visionária de Carlos Avilez, não apenas marcou a cena teatral local, mas também contribuiu significativamente para a formação de alguns dos maiores talentos do teatro português desde a segunda metade do século XX. Ao longo de décadas, suas produções atravessaram fronteiras, sendo apresentadas em países como Espanha, França, Brasil, EUA, Japão, Angola e Moçambique.

" O Carlos Avilez foi um jovem até ao fim. Aos 88 anos tinha ideias de vanguarda e, ainda, inquietava as pessoas. Não há ninguém insubstituível, mas o Carlos vai ser muito difícil de substituir", afirmou, com emoção, Ana Clara Justino, diretora da Escola Profissional de Teatro de Cascais. Com direção de Carlos Avilez, a EPTC formou centenas de alunos que são hoje atores respeitados pelo seu talento e profissionalismo, e que se destacam no Teatro, na Televisão e no Cinema.

A sua influência transcendeu fronteiras também no plano internacional, colaborando com reconhecidos nomes como Peter Brook e Jerzi Grotowski, graças a uma bolsa concedida pelo Instituto da Alta Cultura. Em 1970, Carlos Avilez foi Diretor Artístico e responsável pelo dia consagrado a Portugal na Expo'70, em Osaka, no Japão.

Para além do seu trabalho em Cascais, Carlos Avilez exerceu cargos de destaque, sendo diretor do Teatro Nacional S. João e do Teatro Nacional D. Maria II, presidente do Instituto de Artes Cénicas e diretor do Teatro Nacional de S. João. Em reconhecimento à sua contribuição excecional, recebeu a comenda da Ordem do Infante D. Henrique das mãos do então Presidente da República, Mário Soares, em 1995.

A sua última produção, "Electra," parte de uma trilogia de Eugene O'Neill, estreou no último sábado no Teatro Experimental de Cascais, reunindo um elenco de talentos como Carla Maciel, Miguel Loureiro, Bárbara Branco e David Esteves.

A partida de Carlos Avilez deixa um vazio irreparável no cenário artístico, mas o seu legado perdurará como inspiração para as gerações futuras. Cascais expressa as mais sinceras condolências à família, amigos e admiradores deste grande mestre do teatro português.

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