"Lírico e expressionista, gestual, abstrato, trágico, pintor e poeta (...)" é assim que Tomás Paredes, Presidente da Associação de Críticos de Arte de Madrid, descreveu Moita Macedo. Um nome ainda pouco conhecido do grande público, mas com estatuto maior entre os amantes de arte mais atentos.
"Moita Macedo, uma antologia", com curadoria de Luísa Soares de Oliveira, assinala, assim, os cinco anos de atividade do Bairro dos Museus, prestando homenagem a um autodidata por natureza, considerado uma das figuras das artes portuguesa da segunda metade do século XX.
" Em Cascais estamos sempre disponíveis para acolher e mostrar a obra de nomes consagrados das artes plásticas ou de quaisquer outras manifestações do pensamento criativo, apostando na Cultura como motor de desenvolvimento e de enriquecimento do nosso concelho", referiu Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, na inauguração desta antologia, uma iniciativa da Fundação D. Luís I.
Próximo de Almada Negreiros ou Artur Bual, nomes que influenciaram a sua obra, Moita Macedo cultivou, contudo, um expressionismo pouco comum entre os seus contemporâneos. Uma antologia das obras produzidas durante os cerca de 20 anos de trabalho ativo nas artes plásticas e que uma morte prematura aos 52 anos viria a interromper, podem agora ser apreciadas no Centro Cultural de Cascais, até 26 de abril.
Autodidata sem formação superior, integrou durante décadas os quadros da Siderurgia Nacional, Moita Macedo aprendeu com Almada Negreiros a técnica da gravura, numa época em que Lisboa era caracterizada por um ambiente provinciano e sem mercado se arte consistente.
Seria, assim, o mestre modernista a partilhar com Moita Macedo o interesse pela experimentação formal, técnica e estilística. Quando mais tarde Macedo conhece Artur Bual, de quem se tornará amigo, passa a desenvolver no desenho e também na pintura, um automatismo de raiz surrealista, embora nunca engajado na ortodoxia de raiz francesa comum na época.
O surrealismo de Moita Macedo é sobretudo instintivo não-alinhado e não ortodoxo, livre nos traços, nas manchas, nos pincéis e no traço "que fere as telas". Moita Macedo integrou a geração que deu sentido e valor, na década de 60 em Portugal, ao abstracionismo. Uma geração cujo legado viria a ser uma inspiração para novas manifestações culturais. Mas, nas palavras de Luísa Soares de Oliveira, o seu espirito livre, não se deixou "academizar (...) renovou-se sempre, arriscando uma e outra vez regressar à origem da criação para dar asas ao impulso criativo que era para ele de natureza viral – uma questão de respiração, de pele, de ferida".
Com uma multiplicidade de fontes de inspiração, é no sentido aberto da poesia que podemos encontrar, em Moita Macedo, um paralelismo com a ânsia de abarcar todas as formas possíveis de materialização da arte, num jorro criativo inesgotável e que um dia lhe permitiram dizer: " pintei versos, escrevi quadros".
Moita Macedo, uma antologia. Para descobrir até 26 de abril, no Centro Cultural de Cascais. (PL)