A Fundação D. Luís I e a Câmara Municipal de Cascais apresentam João Abel Manta: A Máquina de Imagens, quase trinta anos depois da última grande exposição do arquiteto, ilustrador, cartoonista e pintor, artista marcante da Cultura nacional.
Patente de 5 de outubro a 16 de janeiro, a exposição marca o início da cooperação e parceria entre a Câmara Municipal de Cascais e a Presidência da República, visando o funcionamento, a manutenção e a utilização da Galeria de Exposições do Palácio da Cidadela de Cascais como polo cultural, um espaço de fruição da população que passa a estar formalmente integrado no perímetro do Bairro dos Museus.
"É uma grande honra para Cascais apresentar esta "Máquina de Imagens", de João Abel Manta, autor que se afirmou entre uma geração de artistas de meados do século XX, desafiando e retratando o panorama político e social, sendo ainda hoje fonte de inspiração para novos artistas", refere o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras.
A exemplo do que acontece com todos os equipamentos do município de Cascais, a gestão programática da Galeria de Exposições do Palácio da Cidadela encontra-se sob a tutela da Fundação D. Luís I.
"É um enorme orgulho para a Fundação D. Luís I merecer a confiança da Câmara Municipal de Cascais para gerir a programação da Galeria deste espaço emblemático de Cascais e intimamente ligado à figura de Rei D. Luís I. Será uma programação assente numa grande diversidade cultural e artística", afirma Salvato Teles de Menezes, presidente do Conselho Diretivo da Fundação D. Luís I.
Com curadoria de Pedro Piedade Marques, a exposição João Abel Manta: A Máquina de Imagens (a partir do título de um artigo de José Luís Porfírio de 1992) é "uma alargada amostra de um dos mais importantes portefólios de desenho, ilustração, design e cartoonismo do século XX português".
A mostra exibe centenas de peças, algumas inéditas, "comprovando o lugar cimeiro de João Abel Manta como interventor gráfico na imprensa periódica e não-periódica no século XX, e, em particular, durante o período mais dramático do último meio século da vida nacional: os sete anos que foram da queda de Salazar e a chegada de Marcello Caetano ao final do Período Revolucionário", adianta o curador.
Como desenhador, cartoonista, ilustrador e cartazista, "o seu trabalho juntou uma prolificidade invejável à máxima qualidade artística e técnica, servidas por uma cultura ímpar e guiadas por um olhar ao mesmo tempo distante e próximo, irónico e terno, implacável e generoso, altivo e popular. No estrito campo do cartoonismo político, foi inigualado, tanto antes da Revolução (quando foi o único a testar a censura e a tentar um género ausente da imprensa vigiada pelo "exame prévio") como depois", acrescenta Pedro Piedade Marques.
A mostra divide-se em temáticas, com uma estrutura cronológica e diacrónica, destacando algumas áreas de trabalho de João Abel Manta "como a sua espantosa produção de imagens durante o "marcelismo" e o PREC de 1974-75 (algumas delas verdadeiros ícones culturais e revolucionários), a exploração do "fantasma" de Salazar (culminado na sua obra-prima, as Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar em 1978) e a sua aptidão como retratista de um panteão cultural nacional muito próprio", conclui o curador.
Sobre Abel Manta | Nascido em Lisboa, em 1928, João Abel Manta foi filho único de dois pintores (Abel Manta e Clementina Carneiro de Moura) e criança precoce no convívio com outros artistas, outros países (França, Itália, Inglaterra) e, decorrente disto, na expressão artística.
Inscrito na Escola de Belas Artes de Lisboa em 1945, Manta revela uma linha elegante e segura já antes dos 20 anos, não isenta de ligeiras (e compreensíveis) influências neo-realistas. O artista compromete logo o seu desenho às suas convicções políticas de oposicionista ao Estado Novo e a Salazar: enfileirando no MUD (Movimento de Unidade Democrática) Juvenil, oferece um desenho alusivo ao Natal de 1947, cuja reprodução e venda reverterá para o apoio a membros do MUD entretanto presos. A sua é a geração que espera, com a derrota das forças do Eixo na II Guerra Mundial, a capitulação do regime de Salazar, e um dos modos de oposição a este é a inscrição, nesse ano, na II Exposição Geral de Artes Plásticas (EGAP) da SNBA, alternativa à oficial do SNI (Secretariado Nacional de Informação, ex-SPN, Secretariado de Propaganda Nacional).
O activismo político valer-lhe-á a prisão em Fevereiro de 1948, com duas semanas passadas em Caxias, e uma ficha nos arquivos da PIDE.
Formando-se brilhantemente como arquitecto nas Belas-Artes (onde estabelece amizade com Rolando Sá Nogueira e José Dias Coelho, que seria assassinado pela PIDE em 1961), inicia a sua actividade no início da década de 1950. Outra amizade, que dará sumarentos frutos no futuro, se fixa nestes anos: com José Cardoso Pires.
Deste período, mostram-se, sobretudo, as primeiras provas daquilo em que Manta será exímio: o retrato de figuras da cultura, expresso numa variedade tonal e de registo linear assombrosa, da linha mais limpa de um Stravinski ao chiaroscuro de um dos muitos Aquilinos que desenhou.
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